![]() |
| Crédito: FreePik |
Doença silenciosa exige diagnóstico precoce e
tratamento adequado para ajudar a preservar audição e qualidade de vida de
pacientes
Foi
por volta dos 30 anos de idade que a enfermeira Carolina Maria Bayestorff, hoje
com 48, começou a perceber os primeiros sinais de que algo não ia bem com a sua
audição. A sensação de ouvido tapado e o zumbido constante estavam prejudicando
sua comunicação. “Estava em um período de bastante trabalho e imaginei que
poderia ser resultado do estresse. Receber o diagnóstico de otosclerose foi
desafiador”, lembra.
Carolina
faz parte do universo de duas em cada dez pessoas que convivem com a perda
auditiva nas Américas. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS),
cerca de 217 milhões de pessoas vivem com essa realidade nos continentes
americanos, o que corresponde a 21,52% da população dessas regiões. No Brasil,
segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, são 2,2 milhões de pessoas com
deficiência auditiva. Entre as causas da condição está a otosclerose, uma
doença autoimune que compromete o osso do ouvido médio.
O
otorrinolaringologista Rodrigo Kopp, que atua no Hospital IPO, em Curitiba,
explica que o problema ocorre com o endurecimento progressivo do osso ao redor
do estribo (um dos três ossículos do ouvido). “Isso impede que o som seja
transmitido corretamente para o ouvido interno. Por isso, o paciente desenvolve
principalmente perda auditiva condutiva, que tende a piorar com o tempo caso
não seja tratada”, orienta.
Além de comprometer a comunicação e o convívio social, a perda auditiva não
tratada está associada a impactos cognitivos importantes, como o aumento do
risco de demência e Alzheimer, devido à menor estimulação cerebral e à redução
das interações sociais, alerta o especialista.
Como
reconhecer a otosclerose
Os
primeiros sinais da doença costumam ser sutis, o que pode atrasar o
diagnóstico. Kopp cita a perda auditiva progressiva, geralmente unilateral no
início, zumbido contínuo, sensação de ouvir melhor em ambiente silencioso do
que no barulho e, em fases mais avançadas, pode surgir sensação de eco da
própria voz (autofonia).
“A
doença não causa dor, secreção ou tontura intensa. A otosclerose evolui de
forma silenciosa, e o paciente costuma atribuir a perda auditiva a causas
banais, como acúmulo de cera, envelhecimento ou resfriado, até que a
dificuldade se torna incapacitante”, comenta.
Entre
os fatores de risco estão a genética, a gestação e o uso de hormônios, que
podem acelerar a evolução da doença. Também podem contribuir inflamações ósseas
localizadas e influências pós-infecciosas, como exposição prévia ao vírus do
sarampo. Mulheres entre 20 e 40 anos e pessoas com história familiar de perda
auditiva precoce estão entre as mais suscetíveis a desenvolver a doença.
Qualidade
de vida recuperada
Hoje,
com a qualidade de vida restabelecida e mais segurança na comunicação, Carolina
é acompanhada pela equipe do Centro de Audição e Equilíbrio (CAE) do Hospital
IPO, referência no diagnóstico e tratamento dos distúrbios do labirinto. O CAE
é especializado na investigação das causas da tontura, vertigem e outros
sintomas que afetam o equilíbrio. Por meio dele, os pacientes têm acesso a
exames audiológicos e vestibulares avançados, a uma equipe altamente capacitada
e a protocolos personalizados para cada tipo de queixa. “Usei aparelho por
muito tempo e fiz cirurgia de implante de teflon. A equipe do CAE tem sido
fundamental no acompanhamento”, diz Carolina.
Kopp,
que está à frente da equipe, conta que é fundamental que quem percebe os sinais
da doença siga o exemplo da paciente. “Com avaliação clínica e exames como
audiometria, imitanciometria e tomografia, conseguimos identificar precocemente
e intervir no momento adequado, antes que o ouvido interno comece a ser
comprometido”, orienta.
O
tratamento, completa, pode ser feito com o aparelho auditivo, a cirurgia ou,
ainda, apenas o acompanhamento clínico, em casos iniciais ou mais estáveis,
esclarece o médico. “São as consultas periódicas que permitem determinar o
timing ideal para prótese auditiva ou cirurgia. Essa estratégia ajuda a
preservar ao máximo a função auditiva ao longo dos anos. Em casos raros de
otosclerose coclear, podem ser discutidos medicamentos que visam estabilizar a
progressão.”
Para
quem já começou a perceber perda auditiva, Carolina aconselha a não demorar
para procurar avaliação médica. “Quanto mais cedo o diagnóstico, maiores são as
chances de tratamento e de retorno à vida normal. Hoje me sinto muito mais
segura e com muito mais autoestima”, finaliza.



.jpg)

